sábado, 23 de março de 2013

De toda poesia que há em mim



É difícil precisar com toda a certeza
o que o meu coração sente.
Meu coração já não tem mais braça pra essa maré
e, com certeza, todo ato de fé é uma ação vã.

Da portinhola de minha casa
vejo um céu-grafite esmorecer em lágrimas.
Caem gotas na alameda de minha porta.
Mas não há ninguém, além de mim, são.

Aqui acolá,
alguém que não reconheço,
sôfrega ensopado.
E eu desato a rir de tal situação.

Fecho a portinhola.
Descalço as alparcatas.
Deito na cama.
Ligo a televisão.

E não há mais nada de interessante que eu me lembre de fazer depois.

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(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?um=1&hl=pt-BR&biw=1366&bih=600&tbm=isch&tbnid=nmQP5POYjxPsCM:&imgrefurl=http://pt.gdefon.com/download/foto_chuva_vidro_janela_gotas_cor_bokeh_humor_foto/317515/2560x1660&docid=V0kVabL4f2iOsM&imgurl=http://st.gdefon.ru/wallpapers_original/wallpapers/317515_foto_dozhd_steklo_okno_kapli_cveta_boke_nastroenie_2560x1660_(www.GdeFon.ru).jpg&w=2560&h=1660&ei=dkNOUbOXEOP00gG51YG4Cw&zoom=1&ved=1t:3588,r:60,s:0,i:267&iact=rc&dur=1580&page=4&tbnh=171&tbnw=261&start=50&ndsp=21&tx=96&ty=77)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Invenção do mundo (ou daquilo que chamamos mundo)

À estranheza das coisas, que nos salta aos olhos na visão primeira;
à imprecisão das sensações, dos sentimentos;
à inquietude do ser consigo, com o outro e com o mundo;
ao silêncio do corpo, da alma e de Deus
respondeu a Linguagem
com seus nomes inventados,
tantos-quanto-é-o-sem-fim:
unidades de medida, diversidade de verbos,
numerais, nomes de cores, sabores,
 substantivos abstratos
dando concretude às coisas abstratas...
 Nomes que inventaram outros nomes
e outras coisas para se nomear.
E esses nomes inventaram frases
e essas frases se fizeram textos
que fundaram crenças, fatos e formas...
E assim, sob um mosaico de nomes,
enxergamos o mundo
ou aquilo que chamamos mundo.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O meu afogar é calmo no mar revolto

O meu afogar é calmo no mar revolto
porque meu corpo já não contesta a fraqueza da vida,
porque minha vida já não resiste à certeza da morte...

Duro é bater-se contra as ondas,
sobraçando uma esperança
de deitar-se à terra firme e mansa.

Árduo é negar, todo tempo, o Tempo
que se abate sobre nossos dias
feito este mar em fúria.

Mas desistir foi-me um gesto de alívio,
que adormeceu meus sentidos
e anestesiou minhas dores.

Deixo que o mar arraste meu corpo
e dê vida a meus últimos movimentos,
sem qualquer intenção que os guie...

Enquanto meus ouvidos, quase surdos,
silenciam eternamente
as vozes desesperadas que vem da superfície...

As vozes desesperadas dos que insistem em esperar.


domingo, 3 de março de 2013

Maldades do tempo

Cada segundo te faz tão menino, brincando com o tempo!
E, ao mesmo tempo, cada segundo te faz tão mais e velho e cansado do tempo.
Ah! E agora, e esse passado que não passa, nem volta? Apenas dá voltas, persiste e assombra?
Maldades do tempo, que escreve um amanhã cheio de promessas sobre o teu ontem, esgotado de tanta esperança esquecida.

Prelúdio

Mas antes de morar em  mim, já estavas... Como o filme que se sabe o fim  ou o sorriso que se adivinha nos lábios de quem se quer. Já eras o início do amor que ainda não era. Eras a espera da história que ainda havíamos de contar.
Não descobri o caminho para tua vida, apenas fui trilhando os passos que teus olhos traçaram em mim.

Somos

Da manhã cheia à noite exausta,
do silêncio à canção,
do sereno à trovoada,
somos.

Do cinema à nossa casa,
da presença à solidão,
dos poemas às conversas
antes da noite chegar,
somos.

Da despedida ao reencontro,
do teclado ao violão,
dos meninos que já fomos
ao nosso menino que virá,
somos.