Bailava nua em cima do palco. As luzes incendiavam seu corpo nu, destacando-lhe os traços mais quentes. Cegava-a também. Morena, dançava com os seus pés cálidos ao som de gritos... e vaias. É assim que vemos pela primeira vez nossa personagem.
O cheiro de cerveja quente que embriaga casa-se com o fedor que nos dá asco dos cigarros baratos. Ar carregado de gente podre marginalizada nas ruas de um bairro sem nome. É aqui que ela dança num palco imundo de baba, gozo e grana.
Nos primeiros movimentos, como os de uma bailarina, usa uma maquiagem de quinta na cara e púrpura no corpo. Lingerie preta com meias 3x4 que suam com o movimento quente de suas coxas roçando a libido de sua voraz sensualidade embevecida com vodka e perfume madeira xampu, e se perde, rasga e borra com seus atos.
Música alta ensurdecedora. Um odor de sexo, do seu sexo, que enlouquece homens e mulheres. Era o balé entorpecido de movimentos cálidos que lhe arrepiavam os poucos pêlos de sua tez castanha da qual os porcos não sentiam... – pensava.
Sabia que eles não eram capazes de se comover com o alento do instante. E esboçava um sorriso sarcástico, sincero e insano de seus dentes tortos, um tanto podres. A luz apaga. Tudo agora é barulho. Não posso dizer mais nada sobre ela.