quarta-feira, 25 de julho de 2012

Multidão de uma só


Revirando-se sob o mesmo nome,
sob a mesma casca de homem,
mora em mim uma multidão:

Crentes, pagãos,
juízes e condenados.
Putas, beatas,
populares e solitários.

Cada qual reivindicando um gesto que seja seu,
uma linha torta para declarar “sou eu”.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A travessia


Atravessa o portão, minha querida,
mas não deixa a menina que há em ti atravessar!
Deixe-a brincando aqui comigo,
olhando o portão e me perguntando
o que ainda há pra olhar.

Atravessa o portão, minha querida,
mas deixa para tua mãe ao menos um olhar...
Guardarei como se fosse uma promessa
de que um dia voltarás
a atravessar este mesmo portão...
Quem sabe, com este mesmo olhar.

Atravessa o portão, minha querida,
que eu fico aqui me perguntando
“Quem será que voltará?
Uma moça arrependida,
uma mãe com sua filha
ou a mesma mulher decidida
que agora vejo atravessar..."

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Solidão Inteira


Prefiro o silêncio seco da tua ausência
ao incômodo silêncio da tua presença...

Prefiro o silêncio morto das coisas,
do teto, do piso, dos quadros
ao silêncio vivo, inquieto,
com o qual tu enchias o quarto.

Prefiro essa solidão inteira
em que me deixaste
à solidão que dividíamos, 
cada um em sua metade.




terça-feira, 10 de julho de 2012

Eu, verbo


No início era o verbo “Sou.”
Seco, irrefletido, sem explicação que lhe coubesse
Depois impuseram o verbo “És!”
E passei a enxergar-me à imagem e semelhança dos outros,
Sem compreender o limite entre o que eu “era” e o que “éramos”

O tempo gestou a incômoda pergunta “Serei?”
E percebi que essa indagação seria uma sombra enquanto eu fosse...
Hoje, pouco mais conformada, pouco menos sensata,
Já não questiono a pessoa ou os números do futuro
Caminho, entre arrependida e aliviada, para o inescapável e eterno “Foi...”

domingo, 8 de julho de 2012

Quando o homem parou de cantar

De súbito,o cantor calou-se, sem saber que, consigo, calava a rua. As janelas, abertas para sua canção, cerraram-se por dentro, escondendo uma saudade. E eu, que ouvia a cantoria ao longe, busquei uma nota no silêncio da noite, mas não encontrei nada – apenas minha vontade de escutar...
O cantor calou porque pensava não ser ouvido... Coitado! Não sabia que a rua, parecendo dormir, na verdade, cantava com ele.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A minha vida

Anjo coração Anjo


Bom-dia, meu nome é Carmen Lúcia 
E sou um anjo.
Eu moro no céu, como todo anjo.
Eu adoro estudar. 
Minha matéria preferida é matemática. 
Eu sou um anjo do bem 
E não gosto de anjo do mal.
Se eu pudesse, eu não deixava 
Ninguém poluir o ambiente.
Eu adoro comer lasanha 
E muitas coisas assadas.
Eu adoro a minha vida. 
Ela é alegre e bonita.


(Ismênia Poliane)




(Ismênia Poliane)

Marulho



Vão se lá contigo meus bons anos, moça.
É, é em vão tentar agarrá-los com braços miúdos.
Mas, se muita for a nossa sorte,
Guardaremos algumas fotos na gaveta,
E outras boas lembranças na memória.

É que a gente envelhece, amor, mesmo sem ver a hora.
O garoto que corria com seu pai há tempos atrás,
É quase pai agora.
E não mais lê gibis (revistas de heróis em quadrinhos),
Mas livros, romances e poemas.

Ah, amor, o menino que fui
Só faz parte da minha imaginação hoje.
E é difícil dizer com toda certeza o que é real ou não.
Só às vezes quando eu fecho bem os olhos
Posso vê-lo com seus brinquedos,

E desato a chorar.

Onde ficaram os desenhos e os primeiros poemas que eu fiz?
Não há mais como encontrá-los, tenho certeza,

Que se foram com as primeiras paixões,
O primeiro marejar das ondas.

Mas jamais deixarão de existir,
Eu prometo.