quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Consolo

Para tudo nessa vida há consolo, minha mãe já dizia. A viúva se consola da perda do marido, mais dia ou menos dia. O bêbado se consola da bebedeira do outro dia, nem que seja no bojo de outra bebida. O desiludido se consola da ilusão primeira, cedendo à outra ilusão, ainda mais faceira. O trabalhador exausto se consola da vida amarga em um sonho doce e a dona de casa sofrida liga a TV e se sente menos desgraçada ao ver tantas desgraças que o jornal anuncia todo dia. Consolo... Ele está em qualquer lugar quando se está disposto a encontrá-lo. Há quem diga que o céu é o consolo dos vivos. Há quem ache que a morte é o consolo da vida, como se, sob a terra, aguardasse-nos o consolo de toda dor que sofremos sobre ela. A fé consola os que acreditam. O prazer, os que o desfrutam. A música, os que param para senti-la. Eu, por exemplo, consolo-me com palavras: escrevo-as, leio-as, aventuro-me em pretéritos imperfeitos e logo, logo, reconcilio-me com o mundo e comigo.

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