Para tudo nessa vida há consolo,
minha mãe já dizia. A viúva se consola da perda do marido, mais dia ou menos
dia. O bêbado se consola da bebedeira do outro dia, nem que seja no bojo de
outra bebida. O desiludido se consola da ilusão primeira, cedendo à outra
ilusão, ainda mais faceira. O trabalhador exausto se consola da vida amarga em
um sonho doce e a dona de casa sofrida liga a TV e se sente menos desgraçada ao
ver tantas desgraças que o jornal anuncia todo dia. Consolo... Ele está em
qualquer lugar quando se está disposto a encontrá-lo. Há quem diga que o céu é
o consolo dos vivos. Há quem ache que a morte é o consolo da vida, como se, sob
a terra, aguardasse-nos o consolo de toda dor que sofremos sobre ela. A fé
consola os que acreditam. O prazer, os que o desfrutam. A música, os que param
para senti-la. Eu, por exemplo, consolo-me com palavras: escrevo-as, leio-as,
aventuro-me em pretéritos imperfeitos e logo, logo, reconcilio-me com o mundo e
comigo.
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