Desde que a Televídeo
abriu suas portas, em 2010, perto da casa de meus pais, evito, na medida do
possível, assistir a lançamentos de filmes. Isso porque a Locadora possui um
belíssimo acervo de filmes das décadas de 70, 80 e 90. Filmes que são
verdadeiros clássicos na filmografia mundial.
Nesses quatro anos de
Locadora, fiz uma belíssima amizade com a dona. Inúmeras vezes conversamos sobre
filmes diversos e, não raro, discutimos títulos com professores, advogados, jornalistas,
entre tantos outros cinéfilos que frequentam o local. Há muito biscoito fino
por lá. Amadureci um bocado com isso.
No entanto, alguns dos
filmes que assisti nos últimos anos valeram muito à pena. Entre tantos títulos,
figuram Alexandria, com a belíssima atuação de Rachel Weisz, O Segredo de Brokeback
Mountain, com as ousadas interpretações de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, e
Crash: no limite.
A lista é bem maior,
claro. Mas minha intenção aqui não é fazer um rol de filmes. Muito pelo
contrário. Meu objetivo é expressar minha insatisfação com a produção cinematográfica
do nosso século. Poucos frutos. Frutas superficiais. Uma cobra que devora o
próprio rabo.
Torço para que muitos
dividam comigo esta opinião. Mas para os que discordam, agradeço. Afinal, é na
concordância que não nos sentimos sozinhos (na pompa, na pampa, na nau), e é na
discordância que nós descobrimos que alguém nos dá ouvido; e o que é melhor,
sem abrir mão de sua criticidade.
Gosto dos filmes pelo
roteiro. Se o roteiro é bom, tanto faz se o filme é cru ou não. Franquias
pequenas, nesse quesito, valem ouro, mas passam despercebidos pela maioria. Um
exemplo é o filme Edukators, de Hans Weingartner, que possui um dos diálogos
mais incríveis que assisti até hoje.
Se pareço sisudo, é
porque provavelmente sou hoje. No entanto, sinto-me cada vez mais convicto de que
a arte só vale à pena se for capaz de nos provocar uma catarse, uma reflexão
bastante aprofundada acerca de nossas convicções. Para minha felicidade, um
filme da franquia Disney que assisti fez isso.
O filme, O cavaleiro
solitário, é um filme de aventura da Disney que mistura outros elementos
bastante característicos da franquia, a saber, humor e magia. Um filme que
serve pra reunir a família e os amigos na frente da tela, telinha, telona. Mas,
para minha surpresa, o filme vai bem mais além.
Antes de dizer o porquê,
quero esclarecer duas coisas. Primeiro, o filme é uma adaptação do cowboy norte-americano
“The lone ranger”, de Tendle*. Segundo, o adjetivo solitário é descabido, pois
as aventuras vividas por John Reid, o Cavaleiro solitário, desenrolam-se na
companhia do índio norte-americano Tonto.
Tonto é o verdadeiro
protagonista da história. É nele que me detenho neste texto. O personagem,
interpretado por Johnny Depp, é quem desencadeia todas as ações mais
significativas do filme. Johnny Depp, por sinal, é fabuloso em cena,
arrancando-nos gargalhadas do início ao fim.
Para quem assistiu de
sobreira a filmes de “bang-bang” na década de 90 e construiu uma imagem de
índio que impedia o progresso, o filme faz uma belíssima, mas triste quebra de
paradigma. Quebra presente na divertidíssima barganha do índio Tonto no
decorrer do filme, no discurso do cacique dos Comanches e no embate da tribo
com as forças armadas americanas.
(Ismael Alves)
* Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lone_Ranger
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