sábado, 26 de abril de 2014

Cavaleiro solitário?

Desde que a Televídeo abriu suas portas, em 2010, perto da casa de meus pais, evito, na medida do possível, assistir a lançamentos de filmes. Isso porque a Locadora possui um belíssimo acervo de filmes das décadas de 70, 80 e 90. Filmes que são verdadeiros clássicos na filmografia mundial.

Nesses quatro anos de Locadora, fiz uma belíssima amizade com a dona. Inúmeras vezes conversamos sobre filmes diversos e, não raro, discutimos títulos com professores, advogados, jornalistas, entre tantos outros cinéfilos que frequentam o local. Há muito biscoito fino por lá. Amadureci um bocado com isso.

No entanto, alguns dos filmes que assisti nos últimos anos valeram muito à pena. Entre tantos títulos, figuram Alexandria, com a belíssima atuação de Rachel Weisz, O Segredo de Brokeback Mountain, com as ousadas interpretações de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, e Crash: no limite.

A lista é bem maior, claro. Mas minha intenção aqui não é fazer um rol de filmes. Muito pelo contrário. Meu objetivo é expressar minha insatisfação com a produção cinematográfica do nosso século. Poucos frutos. Frutas superficiais. Uma cobra que devora o próprio rabo.

Torço para que muitos dividam comigo esta opinião. Mas para os que discordam, agradeço. Afinal, é na concordância que não nos sentimos sozinhos (na pompa, na pampa, na nau), e é na discordância que nós descobrimos que alguém nos dá ouvido; e o que é melhor, sem abrir mão de sua criticidade.

Gosto dos filmes pelo roteiro. Se o roteiro é bom, tanto faz se o filme é cru ou não. Franquias pequenas, nesse quesito, valem ouro, mas passam despercebidos pela maioria. Um exemplo é o filme Edukators, de Hans Weingartner, que possui um dos diálogos mais incríveis que assisti até hoje.

Se pareço sisudo, é porque provavelmente sou hoje. No entanto, sinto-me cada vez mais convicto de que a arte só vale à pena se for capaz de nos provocar uma catarse, uma reflexão bastante aprofundada acerca de nossas convicções. Para minha felicidade, um filme da franquia Disney que assisti fez isso.

O filme, O cavaleiro solitário, é um filme de aventura da Disney que mistura outros elementos bastante característicos da franquia, a saber, humor e magia. Um filme que serve pra reunir a família e os amigos na frente da tela, telinha, telona. Mas, para minha surpresa, o filme vai bem mais além.

Antes de dizer o porquê, quero esclarecer duas coisas. Primeiro, o filme é uma adaptação do cowboy norte-americano “The lone ranger”, de Tendle*. Segundo, o adjetivo solitário é descabido, pois as aventuras vividas por John Reid, o Cavaleiro solitário, desenrolam-se na companhia do índio norte-americano Tonto.

Tonto é o verdadeiro protagonista da história. É nele que me detenho neste texto. O personagem, interpretado por Johnny Depp, é quem desencadeia todas as ações mais significativas do filme. Johnny Depp, por sinal, é fabuloso em cena, arrancando-nos gargalhadas do início ao fim.

Para quem assistiu de sobreira a filmes de “bang-bang” na década de 90 e construiu uma imagem de índio que impedia o progresso, o filme faz uma belíssima, mas triste quebra de paradigma. Quebra presente na divertidíssima barganha do índio Tonto no decorrer do filme, no discurso do cacique dos Comanches e no embate da tribo com as forças armadas americanas.



(Ismael Alves)

* Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lone_Ranger

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