quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Fábrica


   Ouvia-se o grito de um galo velho.  Ainda era noite, mas algumas casas já incendiavam luzes, vapor  pela chaminé. Os filhos do homem pobre desde já saiam de suas casas e tomavam  as  ruas. Eram homens imberbes, mulheres e crianças que marchavam como um exército pra fábrica.
   O barulho  das  máquinas era infernal. O calor era insuportável. O Fordismo tirava do homem a capacidade de ser um bicho e o transformava em uma máquina suja de fuligem.
   Os acidentes eram comuns, monótonos. Dedos e braços eram decepados friamente pelo progresso, pelo lucro. Os mortos eram jogados ao lado para que não atrapalhassem a produção. Capatazes eram pagos para que os operários não parassem. Mulheres foram estupradas para que não perdessem o emprego. Mães eram forçadas a abandonar seus filhos cinco dias após o parto. (E o que valiam  esses  filhos do homem pobre?) (Quanto valia o progresso?)
   Depois de algum tempo surgiram os primeiros Ludistas, que incendiavam fábricas e danificavam as máquinas. Mas ficou óbvio que isso não pararia as engrenagens do capitalismo. Ela estava cada vez mais faminta por lucros.
   Surgiram então os primeiros sindicatos, que deram origem as greves. Então, as fábricas pararam por um tempo. Então, os homens foram ouvidos. Os filhos do homem pobre.
   Os cartistas mostraram que a verdadeira engrenagem das fábricas eram feitas de veias que pulsavam sangue, e não óleo diesel. Mostraram que operários também podiam sonhar com o progresso.
   E governo o que fez nessa historinha? Bom, continuou fazendo o que sempre fazia. Mandou matar e prender os subversivos que atrapalhavam o progresso ( Que progresso?!).
   E todos os dias voltaram a ser iguais. O grito de um galo velho. O Vapor na chaminé. Os filhos do homem pobre marchando pra fábrica.

... mas não podia durar pra sempre!

Um comentário:

Beatrice Monteiro disse...

Parabéns pela força crua do texto!