sábado, 30 de julho de 2011

Minha sutil homenagem a “balada do louco”, da Rita Lee


Estava sentado numa cadeira, na festa na casa de um amigo, vendo os outros dançarem, rirem e se divertirem, quando me veio uma moça de prosa convidar-me para dançar uma música pop que tocava na hora. Fora um convite esquisito, pois ela não falara nada, apenas deu-me sua mão e um sorriso gentil que jamais esquecerei.
Aceitei seu convite e, tímido, fui para o meio da festa. Imaginemos que seja um salão, pois não portava traços de o ser. Não sabia dançar e, ao tentar imitar o cavalheiro ao lado, pisei-lhe os pés uma ou trinta vezes. Trinta é um número mais sincero. Logo, fiquei nervoso e muito mais tímido não pude olhar-lhe os olhos.
Era “uma música longa”, pensei comigo mesmo. Lembro de ter pensado várias vezes: “dançar deveria ser fácil, é só um pra cá, dois pra lá”. E muitas outras vezes pensei isso, “deveria ser tão fácil... deveria...”. O engraçado é que, eu me sentia bem ali. Não me importava com muita coisa na companhia dela.
Tudo tinha seus tons tão escuros, as pessoas rodavam a nossa volta ou nós rodávamos em voltas sobre elas, e zonzo, nem reparei que a música primeira havia acabado e que vieram muitas e muitas outras. Agora a música era meio country, uma música que eu tinha a impressão conhecê-la, mas não me lembrava na hora.
Depois de algum tempo, quando dei por mim, vi que estava sozinho naquela festa. A moça de quem lhes falei não existia. Não lhe vi o rosto, porque não existia. Nem corpo. Nem swing. Mas sua mão me parecera tão real. O convite me parecera tão sincero. Que eu só pude rir de mim mesmo. E ri.
Algum tempo depois, dias, talvez meses, o que me acontecera nessa festa, repetira-se. Foi agradável. Descobri que essa tão misteriosa companhia me fazia bem. Eu ria de algumas coisas que ela dizia. Não me lembro do sabor de sua voz ou manchas de sua pele. A verdade é que dela ou sei muito pouco ou nada sei. Mas, deixa pra lá, você não entenderia se eu lhe dissesse.
Aos poucos me tornei um rapaz mais feliz, mais estranho. Conversar sozinho deve ter contribuído para que os que me vissem na rua assim, nessa situação, rissem de mim e me chamassem de louco. Pessoas podem ser más, sabiam? Muitas vezes nem precisam existir motivos para ser. O fato é que, com o tempo, um tempo que eu nem vi, alguns amigos preocuparam-se com a minha situação, assim, uns me consolaram, outros me abandonaram e outros, abandonei.
Algumas vezes já me perguntei “por que não me deixam ser feliz assim...?”. Sabe, sou feliz. Sei que é loucura conversar sozinho, assim como é loucura vestir roupas coloridas pr’um velório. Mas é muito louco que eu sou feliz. Loucura seria não o ser. Não ser. Ser. Quanto a ela, ah!, ela vive rindo das minhas loucuras.

“Sim! Sou muito louca
Não vou me curar
Já não sou a única que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz! E não é feliz!
Eu sou feliz!...”

(Trecho da Música)

2 comentários:

Beatrice Monteiro disse...

"Mas é muito louco que eu sou feliz. Loucura seria não o ser. Não ser. Ser." =)
Adorei o post. Parabéns!

Verônica disse...

Nossa! O melhor post! Eu viajei aqui lendo. kk Mas é isso mesmo, porque não ser louco? O importante é ser feliz.