Por muito tempo permanecíamos
assim, meu pai e eu, juntos em nossas ausências. Simplesmente nos acostumamos
ao som de nossos gestos mudos: ao inexplicável ritual da troca de canal na
televisão, sem que houvesse qualquer troca de palavras; ao bater de talheres no
prato; ao bater do prato na mesa... Alheios àquela sala, àqueles instantes, ao
nosso próprio alheamento... Até que, um dia, os gestos cessaram. E meu pai não
trocou mais de canal, nem bateu seu prato na mesa... E hoje aquele silêncio me
faz tanta falta! Porque o silêncio já não é o mesmo, nem a sala, nem eu mesmo,
sem que soem seus gestos mudos.
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