segunda-feira, 8 de abril de 2013

Seus gestos mudos

Por muito tempo permanecíamos assim, meu pai e eu, juntos em nossas ausências. Simplesmente nos acostumamos ao som de nossos gestos mudos: ao inexplicável ritual da troca de canal na televisão, sem que houvesse qualquer troca de palavras; ao bater de talheres no prato; ao bater do prato na mesa... Alheios àquela sala, àqueles instantes, ao nosso próprio alheamento... Até que, um dia, os gestos cessaram. E meu pai não trocou mais de canal, nem bateu seu prato na mesa... E hoje aquele silêncio me faz tanta falta! Porque o silêncio já não é o mesmo, nem a sala, nem eu mesmo, sem que soem seus gestos mudos.

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