Querer
é um verbo transitivo, pois quem quer precisa de um objeto para completar-lhe o
sentido. Aquele que quer, quer algo ou alguém - uma carência tão direta que
corrói. Quem quer não quer nada que o separe de seu objeto. O que seria do sujeito
sem seu alvo? Sem o objeto de sua oração? Em qualquer tempo, alguém quer algo
ou alguém... De qualquer modo, alguém quer algo ou alguém. O querer pede um
alvo, ainda que o sujeito seja paciente, ainda que o objeto não seja comum ou
concreto, ainda que o querer seja impróprio. O alvo do querer pode ficar
subentendido, mas ainda está lá, no centro da necessidade. Sim, querer é um
verbo transitivo, porque nosso desejo é objetivo e direto.
O coração da cidade pulsa automóveis, lojas e uma multidão de gente... Gente que corre de um lado para o outro e que vira de lado para não ver o outro.
O coração da cidade parece nunca parar... E por mais barulho que faça, parece nunca ouvir... E por mais tristeza que abrigue, parece nunca sofrer. Ele pulsa sangue e repulsa, sem cessar, sem pesar.
Não é movido a sentimento, nem a razão... É um coração diferente movido a financiamentos e investimentos. Em seu interior, correm automóveis e pernas, já meio autômatas.
Um órgão-máquina no centro de nossa rotina mecânica.
Estávamos de um jeito que eu não
saberia definir se era próximo ou distante, unidos ou separados. Sabíamos que
aquilo era uma despedida, mas há muito a adiávamos. Toda minha esperança já
tinha desesperado e agora esperava a última palavra, sem saber como aceitá-la.
Ele me perguntou como seria dali para frente. Então narrei para ele o que eu
via: nossas lembranças que, de tão lindas, ainda não eram! Contei nossas histórias
“dos dias depois de amanhã”. As manhãs e noites que sonhava. E até sonhos que
nunca tinham me visitado, que surgiram naquele momento, brotando, crescendo,
querendo ser divididos. “Como eu pudia ter certeza de tudo isso?” Ele me
indagou. Toda minha certeza estava ali. Era o olhar dele, do qual eu
simplesmente não conseguia desviar. Era o aperto que me consumia o peito quando
pensava no fim. Poderia ser que essa certeza não fosse pra sempre. Mas era
naquele momento, tão forte e tão inegável que eu a sentia mais intensamente que
minha própria respiração. Eu sentia esta certeza pulsando comigo. Não havia
palavra para nomear aquilo. Então disse que sabia. Sim, eu sabia, e sentia que
nossas lembranças seriam ainda mais bonitas do que aquelas que eu imaginava.