domingo, 25 de março de 2012

O segundo de um beijo

Então me beijas...
E por um instante
(que valerá por todos os instantes)
Sou teus lábios nos meus
 e só.

Oscilante

É que até minha certeza se confunde em teus braços
E eu já não sei se há cura para nossas loucuras...
Eu já não sei se alivia ou se dói.

De um peito em turbilhão

Me encaixo em teus braços
E tuas mãos se encaixam em minhas mãos


Se vai o meu receio
Em teus braços, todo medo é vão


O mundo silencia
E só escuto o peito em turbilhão

domingo, 18 de março de 2012

Querer, verbo transitivo

Querer é um verbo transitivo, pois quem quer precisa de um objeto para completar-lhe o sentido. Aquele que quer, quer algo ou alguém - uma carência tão direta que corrói. Quem quer não quer nada que o separe de seu objeto. O que seria do sujeito sem seu alvo? Sem o objeto de sua oração? Em qualquer tempo, alguém quer algo ou alguém... De qualquer modo, alguém quer algo ou alguém. O querer pede um alvo, ainda que o sujeito seja paciente, ainda que o objeto não seja comum ou concreto, ainda que o querer seja impróprio. O alvo do querer pode ficar subentendido, mas ainda está lá, no centro da necessidade. Sim, querer é um verbo transitivo, porque nosso desejo é objetivo e direto.

sábado, 17 de março de 2012

O coração da cidade

O coração da cidade pulsa automóveis, lojas e uma multidão de gente... Gente que corre de um lado para o outro e que vira de lado para não ver o outro.
O coração da cidade parece nunca parar... E por mais barulho que faça, parece nunca ouvir... E por mais tristeza que abrigue, parece nunca sofrer. Ele pulsa sangue e repulsa, sem cessar, sem pesar.
Não é movido a sentimento, nem a razão... É um coração diferente movido a financiamentos e investimentos. Em seu interior, correm automóveis e pernas, já meio autômatas.
Um órgão-máquina no centro de nossa rotina mecânica.

sábado, 10 de março de 2012

Este instante não tem fim

Mas este instante não se encerra
É um eterno caminho no descaminho de teus lábios
E, em nossos braços, cultivamos um abraço sem fim.

Sim, este instante não se acaba
Meus olhos nunca terminaram de te descobrir
Nossos corpos estão se conhecendo – ainda e para sempre!

terça-feira, 6 de março de 2012

Em cena

A platéia do outro lado espera o riso,
Mas, em meu peito, a noite é tragédia.
Visto então a minha máscara, o meu sorriso.
Esta alegria, eu finjo até pra mim.
Às vezes é bom perder-se, assim, no papel...
Sou eu minha grande mentira.


sábado, 3 de março de 2012

Meu chá mate tostado

Passeio com as minhas mãos por sobre as coisas.
Tenho os olhos fechados.
Guio-me apenas pelo som daquilo que ouço
ou pela aspereza daquilo que toco.

Paro um pouco...
“Minha cabeça dói”.
“O mundo dói”, aquiesço.
E sigo a minha vida, por um instante, entristecido.

Vai-se lá, Deus, minha fé.
Perdoe
O estupor.
O medo.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Lembranças

Estávamos de um jeito que eu não saberia definir se era próximo ou distante, unidos ou separados. Sabíamos que aquilo era uma despedida, mas há muito a adiávamos. Toda minha esperança já tinha desesperado e agora esperava a última palavra, sem saber como aceitá-la. Ele me perguntou como seria dali para frente. Então narrei para ele o que eu via: nossas lembranças que, de tão lindas, ainda não eram! Contei nossas histórias “dos dias depois de amanhã”. As manhãs e noites que sonhava. E até sonhos que nunca tinham me visitado, que surgiram naquele momento, brotando, crescendo, querendo ser divididos. “Como eu pudia ter certeza de tudo isso?” Ele me indagou. Toda minha certeza estava ali. Era o olhar dele, do qual eu simplesmente não conseguia desviar. Era o aperto que me consumia o peito quando pensava no fim. Poderia ser que essa certeza não fosse pra sempre. Mas era naquele momento, tão forte e tão inegável que eu a sentia mais intensamente que minha própria respiração. Eu sentia esta certeza pulsando comigo. Não havia palavra para nomear aquilo. Então disse que sabia. Sim, eu sabia, e sentia que nossas lembranças seriam ainda mais bonitas do que aquelas que eu imaginava.