Com quem era mesmo? Se bem que tanto
fazia. Quem quer que fosse, de nada valeria. Necessidade não tem nome, tem
pressa.
E daí se não lembrasse o nome dela?
Tanta gente que ele não sabia o nome. Tanta gente que ele sabia o nome e não se
importava. Ninguém precisava ter nome. Nome próprio... Próprio para quê? O nome
não garante nada. O que importa é a serventia. Isso sim é importante. As
pessoas deveriam ser chamadas pela sua área de interesse. O motorista, por
exemplo, ele era o TRANSPORTE. A vizinha era o PRAZER. O patrão era o DINHEIRO,
claro. Muito mais fácil, muito mais franco.
- Com quem o senhor deseja falar?
Que bobagem! Com ninguém! Não tinha
querer nessa rotina. Tinha dever. A vida inteira dele era um verbo no
imperativo: “DESCE! ENTRA! ESTUDA! CRESCE! TRABALHA! CASA! TRABALHA! ACORDA! TRABALHA!”
- É... Quero falar com a...
Ela não tinha nome, como ele. Ele
era alguém, alguém qualquer. Ela, pra ele, era ninguém, era nada. Era pior que
a... Era uma. Qualquer uma. Mais uma. Mulher sem nome próprio.
- Quero falar com sua patroa.
- A dona Dalva?
- É, a dona Dalva.
Dalva, era esse o nome da
necessidade. Podia ser gorda, magra, triste, feliz, saudável, moribunda... Que
diferença fazia? Ela era a “dona Dalva” da secretária, o EMPRÉSTIMO dele,
ninguém de tanta gente... E ele? Ele era um pronome indefinido. Um cismar
silencioso. Um grito... Sufocado na garganta.
Um comentário:
Que texto lindo Beatrice. "Não tinha querer nessa rotina, tinha dever" Bela distinção, poucos percebem essa diferença. Parabéns!
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