Perdoe esses meu olhos que te olham com olhos de passante,
que te olham sem olhar, só te roçam de leve.
Perdoe esses meus olhos
que não celebram tuas curvas como mereces,
que não se perdem em teus desvios,
nem pousam nos teus pontos mais íntimos (esses que tu
mostras só pra mim).
Perdoe esses meus olhos, minha menina, minha mulher.
Perdoe não acompanhar teu alvorecer como um espetáculo,
teus primeiros raios de luz, teus primeiros barulhos ao
acordar.
Perdoe esses meus olhos frios
que não contemplam teu frágil amadurecer,
teu crescimento rápido e silencioso...
Perdoe esses olhos que passam, ilesos, por tuas cores.
Perdoe-me se não agradeço todo dia por esses teus braços de
luz.
Perdoe a moradora relapsa, que te esquece em meio a nomes
sedutores de lugares distantes, nomes estrangeiros, além-mar, além-oceano, além
do que eu possa imaginar. Perdoe esse meu gosto pelo que ainda não provei, essa
busca agitada pelo que nunca senti.
Perdoe não parar para admirar tua beleza dividida entre
verde e concreto...
Não sei descrevê-la... É uma aparência inquieta, que parece
mudar quando se dobra a esquina...
Perdoe a caminhante distraída que te olha todo dia, sem se
admirar um minuto que seja.
Perdoe esses meus olhos que não aprenderam a te olhar.
Um comentário:
Que bonito Beatrice! Depois desse texto, passarei a olhar mais para as belezas naturais e artificiais do lugar onde repousa a minha existência. Beijos!
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