quinta-feira, 29 de abril de 2010

O punhado de areia


Eu me lembro pouco do céu naquele dia. Mas desconfio que estava nublado. De qualquer forma era uma manhã de outubro e manhãs de outubro sempre parecem cinzentas, mesmo quando ensolaradas.
Era o tão esperado dia da mudança... Meu pai tinha planos de morar em outra cidade desde o tempo em que eu era um feto. E então, sete anos depois, ele realizava seus velhos planos.
Minha mãe não estava tão animada quanto o meu pai, mas parecia se contentar com a felicidade dele. Assim eu era a única insatisfeita. Não dizia nada contra, até fazia planos para a nova cidade, mas não conseguia me sentir alegre de verdade.
Tudo foi tão repentino. Do nada o vago projeto transformou-se em mudança com data e hora certa. Quando foi que o mundo ficou tão ordenado que eu não acompanhei?
Era o fim. O recomeço não tardaria, mas eu já sentia tanta falta do que eu ainda tinha! Meu quintal, minhas conversas, minhas flores, o canto dos meus passarinhos... Nada era realmente meu, mas me tomavam tanto amor que parecia ter pleno direito de possuí-los!
A hora de partir se aproximava e eu não sabia onde esconder tanta tristeza. Lembro que tentei me consolar com uma boa amiga, mas que não devia ser tão boa assim porque não consigo recordar seu nome.
Acabei entrando no carro com um punhado de areia em minhas mãos pequeninas. Não podia levar nada do que me alegrava, mas aquela areia me lembraria para sempre o quanto eu tinha sido alegre naquele lugar.
Eu não sei onde o tal punhado de areia foi parar. Acho que me cansei de segurá-lo e o derramei pela janela do carro. Mas quando eu olho para as minhas mãos, já não tão pequeninas e marcadas pelo tempo, eu posso sorrir. Não porque me sinto criança de novo, mas porque lembro que fui criança o bastante para tentar levar a alegria em minhas mãos...

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