domingo, 10 de janeiro de 2010

A blogueira e o poeta

O primeiro contato que eu tive com a poesia de Pablo Neruda foi assistindo a um filme,“O carteiro e o poeta”, que minha irmã encontrou perdido entre outros títulos antigos numa locadora perto de casa. É uma história bonita e incrivelmente carismática: trata da amizade de Neruda com um carteiro que aprende com ele sobre poesia e mulheres. No filme, Neruda ensina Mario, o carteiro, a entender suas metáforas e a fazer ele mesmo versos que ele utiliza para conquistar a amada (que por um acaso se chama Beatrice =)!).
Em um dado momento do filme, a mãe de Beatrice encontra um poema de Mario para a filha e diz a ela que prefere que ela seja assediada pelos clientes do bar em que ela trabalha do que “enfeitiçada por metáforas de um poeta”. De certa forma a velha tinha razão porque aquelas palavras tinham o poder de tocá-la mais intimamente que a mão boba de qualquer bêbado.
“O carteiro e o poeta” fala do ato de escrever, porém, mais do que isso, fala sobre a poesia que pode não estar escrita, mas que vive nas pessoas, no mar, nas árvores, no vento... Poesia não é
só o que se lê, mas é principalmente o que se sente.
Assistindo eu tive interesse em ler mais de Neruda e pude ver que ele foi um mestre em escrever versos que mexem com os sentidos, com a percepção do leitor. Os poemas dele têm um sabor de maresia, sopram como a brisa de uma praia calma, e tocam como o carinho da pessoa amada.

(Sem falar que além de mestre na escrita, ele foi senador, embaixador, e mais tarde se tornou um
revolucionário na Espanha e na América Latina o/ Como ele mesmo disse na autobiografia “Confesso que vivi”. E como viveu!)





Por último, um poema para sentir a poesia de Neruda:


O vento na ilha

O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite.

Descansarei, amor meu.
Pablo Neruda

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