
Em um dado momento do filme, a mãe de Beatrice encontra um poema de Mario para a filha e diz a ela que prefere que ela seja assediada pelos clientes do bar em que ela trabalha do que “enfeitiçada por metáforas de um poeta”. De certa forma a velha tinha razão porque aquelas palavras tinham o poder de tocá-la mais intimamente que a mão boba de qualquer bêbado.
“O carteiro e o poeta” fala do ato de escrever, porém, mais do que isso, fala sobre a poesia que pode não estar escrita, mas que vive nas pessoas, no mar, nas árvores, no vento... Poesia não é só o que se lê, mas é principalmente o que se sente.
Assistindo eu tive interesse em ler mais de Neruda e pude ver que ele foi um mestre em escrever versos que mexem com os sentidos, com a percepção do leitor. Os poemas dele têm um sabor de maresia, sopram como a brisa de uma praia calma, e tocam como o carinho da pessoa amada.

(Sem falar que além de mestre na escrita, ele foi senador, embaixador, e mais tarde se tornou um revolucionário na Espanha e na América Latina o/ Como ele mesmo disse na autobiografia “Confesso que vivi”. E como viveu!)
Por último, um poema para sentir a poesia de Neruda:
O vento na ilha
O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.
Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite.
Descansarei, amor meu.
Pablo Neruda
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