segunda-feira, 15 de março de 2010

A Maça


    O poeta encantou-se pelo nome do anjo. E meio sem jeito, pediu-lhe um beijo. Segurou suas mãos quentes contra as suas, e respirou todo ar que havia em vertigem. Sentiu o ar congelar seus pulmões – mas julgava  que ali havia alguma coragem; pois se via – ali – como o mocinho dos romances que escrevia.
   Estavam parados ali. – ali onde a vista alcança. E os seus olhos alcançavam os dela, com uma simples ternura. Era um Romeu e uma Julieta tão modernos quanto os de Shakespeare. E o silêncio entre dois me parecia eterno. E seduzia assim um coração. Que eu dançaria em voltas – dessa minha favorita.
   Todo colibri desejava um beijo. E o pouco néon incendiava seu rosto nu, como os primeiros raios de sol iluminam azul celeste na aurora – e suspira o cheiro de camomila no ar. E mesmo assim... assim mesmo... parecia se esconder em um véu.
   Deus guiava aquela valsa muda com o seu pincel. E o cristal em meu peito era o meu único peso e proteção. Uma árvore velha despia-se sobre nós com suas folhas secas. E o momento não nos fazia mais anjo e poeta; mas homem e mulher. E foi assim, por um breve momento – que valeria a pena.
   E num instante, o silêncio era uma lembrança. E as mãos dela sobre as minhas era saudade. E o seu beijo, era o paraíso e a maça. – que não provei. Num instante. Não mais que um instante.

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